Minha experiência com a Ayahuasca
Esse é o meu blog onde eu escrevo sobre Psicologia e Espiritualidade
Minha Experiência com a Ayahuasca
Olá, meu nome é Roberto e hoje vou falar da minha participação no ritual do Santo Daime onde fiz o uso do chá de Ayahuasca.
A Ayahuasca é uma bebida enteógena( do grego- en= dentro e theo= divindade) que produz um estado alterado de consciência e que é utilizada de forma ritualistica por muitas religiões e faz parte da medicina tradicional dos povos amazônicos. Ela é produzida pela junção de duas plantas: o cipó Jagube e as folhas da Chacrona e não produz dependência, portanto não é uma droga. É conhecida como a planta professora.
A junção dessas plantas potencializam uma substância que temos em pequenas doses no organismo. Essa substância é chamada DMT- dimetiltriptalina. O interessante é que os indígenas descobriram que o chá só funciona com essas duas plantas juntas pois o organismo metaboliza a DMT através de uma enzima chamada MAO- monoamina oxidase e justamente o cipó de Jagube tem a função de bloquear essa enzima fazendo com que o DMT possa agir no organismo provocando os estados psicoativos.
Apesar de ser uma substância terapêutica ela tem algumas contraindicações: pessoas que fazem uso de antidepressivos e tenham algum diagnóstico de transtornos de personalidade, esquizofrenia, transtorno bipolar, sídrome de pânico ou surtos psicóticos não são indicados a tomar a substância que tem um poder psicoativo que pode desencadear surtos psicóticos.
Entretanto, a utilização do chá é muito comum entre as comunidades indígenas, inclusive crianças tomam nos rituais que são sagrados para essas culturas. O Santo Daime é uma seita fundada pelo mestre Irineu, filho de escravo, que nasceu em 1892 e teve contato com o chá através de um Xamã peruano que difundiu a bebida entre as comunidades não indígenas.
Agora vou falar como foi a minha experiência: Eu conheci um local de consagração muito respeitado em Sorocaba e como eu estava passando por um período difícil em todos os sentidos, resolvi participar do ritual que segundo informações trariam experiências espirituais intensas para meu crescimento psicológico e pessoal.
Mesmo a contragosto da minha família e esposa, teimei e fui. Cheguei no local onde fui muito bem recebido, paguei uma taxa que serve para manter a instituição e a fabricação do chá. Fiz uma anamnese com um dos colaboradores que me deu algumas instruções de como me comportar durante o ritual. Explicou para eu ser respeitoso e cantar junto todos os hinários que fazem parte do ritual. Esses hinários foram recebidos por mestre Irineu em estados de êxtase e passados para os adeptos da seita. Me pareceu um misto de cultos indígenas com tambores, violões e letras que remetem a igreja católica, santos etc. Um tipo de sincretimo religioso.
Fui sentar em uma cadeira onde separavam os homens das mulheres e no horário marcado fomos chamados um a um a tomar a primeira das três doses do chá. a primeira dose é um copo cheio. O gosto não foi tão ruim como muitos falam. Acredito que tinha mais alguma coisa adocicada que aliviou o amargor peculiar do chá.
Daí começaram os cânticos, lembrei que era para me concentrar nas letras, deixando a mente livre e não parar de cantar pois poderia sentir vontade de vomitar ou ter diarréia. Até um certo momento do ritual, após ter tomado o chá eu me mantive centrado. Aí comecei a ver que algumas pessoas começaram a vomitar. Lá tem obreiros que ficam ao lado com sacos de plástico caso alguém precise vomitar e indicam o banheiro no caso de dor de barriga. Essas reações segundo o orientador, são limpezas físicas e espirituais necessárias para algumas pessoas.
Então comecei a me desconcentrar e a ter alguns pensamentos negativos. No mesmo instante minha barriga começou a ter espasmos e tive que correr para o banheiro. Voltei e continuei cantando e me concentrando. Daqui a pouco comecei a me desconcentrar e logo a barriga começou a embrulhar. Pensei bem rapidamente como se estivesse falando com alguém: Tá bom, tá bom, eu me concentro, eu me concentro e por incrível que pareça parou na hora.
Passados 30 minutos do ritual comecei a me sentir estranho, eu olhava para o hinário e as letras pareciam que estavam sublinhadas com aquele marca texto verde fosforescente sabe? E logo o som dos tambores e violões pareciam que estavam rentes ao meus ouvidos como se fosse um alto falante, o som parecia mais alto e mais próximo de mim apesar de eu estar meio distante dos músicos.
Na hora da segunda e terceira doses você que escolhe a quantidade de chá, então já com medo do que poderia acontecer pedi só um pouquinho na segunda dose e voltei para o meu lugar. Aí fiquei tendo uma sensação de tontura, como estivesse sedado e comecei a ter umas paranóias. Tinham dois rapazes obreiros que ajudavam as pessoas e que estavam ao meu lado em pe´. Eu tive a impressão que um deles estava pegando um copinho de café descartável com água e com os dedos ficava me espirrando gotas dágua. Mas quando eu olhava eles estavam parados. Mas eu sentia o respingar no rosto mas era uma alucinação.
Daí chegou a hora da terceira dose e eu já estava com medo de ficar naquele estado alterado e não voltar. Então só deixei o colaborador colocar uma gota no copo e bebi. E assim que todos beberam passou para o último estágio do ritual. As luzes se apagaram e tudo ficou em silêncio. Pediram para que fechássemos os olhos e observássemos os efeitos. Aí complicou...
Logo que fechei os olhos tudo virou uma pintura no estilo Picasso e várias criaturas que eu classifiquei de demônios com formas de répteis começaram a aparecer. Giravam, abriam a boca e sumiam. Tudo em preto e branco como uma pintura.
Em seguida comecei a ver guerreiros vikings que surgiam de um ponto como se fosse um portal e vinham em minha direção como que para me atacar. Depois guerreiros Templários junto com os vikings se juntavam a mim onde todos ficávamos contorcidos dentro de raízes de árvores. Como se fôssemos as raízes. Ficavam de fora, braços com espadas, pernas e cabeças.
Sendo assim, resolvi abrir os olhos e a voz me disse se eu queria ver mais. Eu pensei e quando ia responder essa voz me diz que eu teria que fazer outra limpeza que seria uma diarréia. Então sem pestanejar respondi que não e fiquei com os olhos abertos. O efeito com os olhos abertos é menor e só tive algumas sensações estranhas e a visão um pouco distorcida e me mantive assim até o término do ritual.
Depois todos foram convidados a tomar um lanche comunitário e aguardarem um pouco para que todos os efeitos do chá terminassem. Como sou medroso e teria que dirigir fiquei até umas 2h da manhã para ter certeza que poderia sair. Depois peguei o carro e fui bem devagar até em casa.
Cheguei tarde, todo mundo preocupado e bravo comigo mas deu tudo certo. Deitei e ainda tive algumas visões de umas mulheres com roupas antigas e depois dormi.
No outro dia tudo estava normal mas eu pessoalmente não gostei muito da experiência e não voltei mais no local. O mestre que organiza os rituais me aconselhou participar de três reuniões mas eu achei que uma bastou, pelo menos até agora. Foi uma experiência diferente, mas para quem vive uma vida muito atrelada ao racional como eu, me assustou entrar em contato com o inconsciente e a irracionalidade. Por isso eles dizem: O Daime é para todos mas nem todos são para o Daime. E essa foi minha experiência... Obrigado
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Uau...que experiência fantástica. Muito esclarecedor.
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